Fernando Pessoa Ortónimo
Tema A
"A arte é o resultado da colaboração entre o sentir e o pensar."
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias
Num texto de 80 a 130 palavras, desenvolva esta ideia, a partir das suas impressões de leitura da poesia de Fernando Pessoa ortónimo.
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Um dos temas recorrentes da poesia de Pessoa é o binómio sentir/pensar, dois conceitos completamente distintos na visão do poeta.
Para Pessoa, enquanto que pensar traz infelicidade, sentir é algo completamente diferente, algo inconsciente e, por isso, traz consigo felicidade (apesar da sua inequívoca relação na formação da “arte”). Em poemas como “Ela canta pobre ceifeira” é possível ver tal oposição. Enquanto que a ceifeira vive feliz, dado que não pensa, apenas sente, o poeta, que utiliza o pensamento para viver, sente inveja da própria ceifeira, dado que, vivendo conscientemente, pensando, é infeliz.
Em suma, a comparação entre pensar e sentir na poesia ortónima de Pessoa pretende mostrar que alguém que viva a vida sem pensamento é mais feliz do que aquele que está constantemente a pensar.
Tema B
"O ato poético por excelência, diz Pessoa, resulta de um processo de despersonalização de emoções e sentimentos, não necessariamente coincidentes com os do artista, implicando, no mais alto grau, o desdobramento do autor em várias personalidades poéticas."
Maria Teresa Schiappa de Azevedo, "Em torno do Poeta fingidor", in Os Rostos de Pessoa
Num texto de 80 a 130 palavras, exponha a sua perspetiva de leitura, a partir da análise do pensamento transcrito.
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A fragmentação do eu é um dos temas da poesia de Pessoa.
Para Pessoa, é impossível encontrar a identidade e evitar a fragmentação do eu. O ser plural, caso não cesse a procura da resposta ao enigma do ser, torna-se infeliz. Ao procurar desvendar tal enigma, confronta-se com a pluralidade e, sendo vários, não é ninguém, compreendendo-se o porquê de não saber quem é, nem saber se ele existe. No entanto, ao viver diferentes “personagens”, o eu encontra-se fragmentado e não é possível ser a totalidade dos fragmentos. Consequentemente, não pode voltar a ser a unidade (que pode representar a infância ou a felicidade perdida).
Conclui-se, então, que a heteronímia é fruto da fragmentação do eu, não permitindo o eu fragmentado e a perda de identidade, a felicidade do poeta.
Tema C
"A infância que lembramos não é, portanto, a infância que tivemos, mas uma representação atual da infância; nem é preciso ter vivo uma infância feliz para que a infância seja para nós uma idade feliz."
Jacinto Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, 1985, p. 91
A partir da citação apresentada, explica a importância do tema da infância mítica na poesia de Pessoa ortónimo, baseando-te na tua experiência de leitura.
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Um dos temas recorrentes da poesia de Pessoa é a infância.
A infância é entendida como um tempo mítico do bem, da felicidade e da inconsciência. Nela permanecem sempre vivos a família e os lugares, a segurança e o aconchego, entretanto perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência de que todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir nostalgia face à infância, um tempo perdido que serve para acentuar a negatividade do presente. O desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.
Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.
Tema D
"A infância que lembramos não é, portanto, a infância que tivemos, mas uma representação atual da infância; nem é preciso ter vivo uma infância feliz para que a infância seja para nós uma idade feliz."
Jacinto Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, 1985, p. 91
A partir da citação apresentada, explica a importância do tema da infância mítica na poesia de Pessoa ortónimo, baseando-te na tua experiência de leitura.
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O tema da infância mítica é deveras importante na poesia de Pessoa ortónimo
Pessoa sente saudade da infância, uma saudade intelectual e literariamente trabalhada, saudade de uma nostalgia imaginada, símbolo da pureza, inconsciência, felicidade e até mesmo sonho. A recordação deste tempo, o tempo do bem perdido, do mundo fantástico, é resultado da fuga/evasão à realidade e ao tempo presente. Porém, em poemas como "Ó sino da minha aldeia" é possível ver-se alguma tristeza e lamentação resultante de um tempo que não passou de um sonho, mas que também marca o tempo em que o poeta viver, um tempo de felicidade que foi passado junto da família.
Em suma, o tempo da infância mítica era um tempo em que, para o sujeito poético, tudo era fácil e possível de acontecer.
Alberto Caeiro
Para Jacinto Prado Coelho, “Caeiro é um poeta do real objetivo” (Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, 1985, p. 24).
Comenta a afirmação transcrita, tendo em conta a tua experiência de leitura.
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Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, é, por excelência, o poeta das sensações, um poeta sinestesista.
O “mestre” de Pessoa identifica-se com a Natureza e com todos os seus elementos. Caeiro deseja mesmo viver ao ritmo da Natureza, sem preocupações com o passado, o presente ou o futuro. O autor de “O Guardador de Rebanhos” mostra, tal como em “Poemas Inconjuntos”, que vive dos sentidos e das sensações que deles advêm. Recusando qualquer tipo de pensamento, sendo visto como uma criança, Caeiro é caracterizado como sendo “um poeta do real objetivo”. É um ser uno que vive sem qualquer dor.
Assim, o heterónimo que Pessoa criou como tendo o nível de educação mais baixo é aquele que vive mais feliz, já que vive a vida sem pensar.
Ricardo Reis
Tema A
Com base na tua experiência de leitura, explica, recorrendo a exemplos, qual é a conceção que Ricardo Reis tem dos deuses.
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Ricardo Reis é dos heterónimos de Fernando Pessoa que mais utiliza na sua obra a mitologia e, consequentemente, os deuses.
Para Reis, os deuses não são uma única entidade, antes são várias entidades superiores a nós próprios, seres humanos, que controlam a nossa própria vida, sem que nós nos apercebamos de tal. Dado que controlam a nossa vida e que temos um destino a cumprir, a liberdade é limitada, uma liberdade em que a “Nossa vontade e o nosso pensamento / São as mãos pelas quais outros nos guiam” (deuses).
Ricardo Reis defende, assim, uma mitologia pagã, onde existem vários deuses, uma pluralidade de deuses, que funcionam como entidades reais.
Conclui-se que Reis, ao defender a existência de forças que nos controlam, defende que a nossa liberdade é limitada.
Tema B
Num texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de oitenta a cento e trinta palavras, refira a importância da inspiração estoico-epicurista na poesia de Ricardo Reis. Fundamente a sua opinião com argumentos decorrentes da sua experiência de leitura deste heterónimo de Fernando Pessoa.
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Ricardo Reis, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, baseia a sua vida nos ideais epicurista e estoico.
Reis é um epicurista triste, já que aproveita o dia (“carpe diem”), de forma calma e tranquila (“aurea mediocritas”). Para complementar tal facto, vive num estado de ataraxia, ou seja, vive a vida sem preocupações, sem ceder aos seus impulsos. Tal facto é visível em poemas como “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”.
No entanto, tem noção do destino. Com medo da velhice e da morte, assume-se um estoico disciplinado, já que tem a noção da efemeridade da vida e das leis do destino, vivendo num estado de apatia (vivendo sem preocupações e sem se envolver com os outros).
Em suma, Reis vive a sua vida baseando-se em dois conceitos interligados.
Álvaro de Campos
“A partir de 1916, Campos é o poeta do abatimento, da atonia, da aridez interior, do descontentamento de si e dos outros. (…) Decadente (…), por se ter despenhado da exaltação heroica, nervosamente conseguida, dos longos poemas à Whitman.”
Jacinto Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, p. 65
Com base na tua experiência de leitura, comenta a afirmação transcrita reportando-te às fases de criação poética de Álvaro de Campos.
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A poesia de Álvaro de Campos pode ser dividida em três fases, resultado do seu modo de ver a vida. No entanto, partindo do excerto, são visíveis duas fases diferentes, sendo uma resultado da outra: a fase futurista e a fase pessoal e intimista.
A fase futurista é a fase do modernismo puro. Fazendo o elogio à modernidade, à indústria e à máquina, através de uma “exaltação heroica nervosamente conseguida”, Campos mostra, em “Ode Triunfal”, recorrendo às sensações, raiva, revolta e agitação face ao Mundo.
Como consequência desta fase, surge a fase pessoal e intimista, uma fase de conformação com a vida, uma fase em que o poeta aguarda pela morte, uma fase de angústia, desencontro com os outros e cansaço.
Em suma, Campos apresenta diferentes fases na sua poesia.
Os Lusíadas
Tema A
Considera a seguinte transcrição:
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza. (X, 145)
Somos levados a perguntar se, afinal de contas, Os Lusíadas são um poema de satisfação e de vitória, ou de deceção e de descrença.
Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à poesia de Luís de Camões, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, (col. Biblioteca Breve), 1992, p. 37
Com base na tua experiência de leitura d’Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, comenta a questão formulada por Maria Vitalina Leal de Matos.
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A obra de Camões pode ser vista como se uma dupla dimensão se tratasse: uma visão de satisfação/vitória e outra de deceção/descrença.
Por um lado, a satisfação e a vitória são mostradas pelos planos da História de Portugal e pelo plano da viagem, onde se nota o mérito dos portugueses que foram os responsáveis por dar “novos mundos ao Mundo”.
No entanto, são as reflexões do poeta que mostram a deceção e a descrença. É no final de cada canto que Camões exprime a sua opinião e a de outros setores da sociedade (velho do Restelo). Camões critica os riscos que os portugueses correram (possivelmente não valeram a pena), a descrença na cultura e nas artes e a sobrevalorização do dinheiro por parte da sociedade.
Assim, apesar de evocar o povo português pela sua coragem e determinação, Camões denuncia a ambição desmedida por parte do Homem do seu tempo.
Tema B
"Em relação à mitologia n'Os Lusíadas, penso que é preciso pôr inteiramente de parte as conceções tradicionais segundo as quais ela teria no poema uma função ornamental, ou então restritamente alegórica. Segundo creio, o plano mitológico é n'Os Lusíadas o que há de essencial, nele residindo a vida e o significado profundo do poema. (...) A narrativa histórica d'Os Lusíadas é uma lua iluminada pelo sol da mitologia."
António José Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, vol. II - Parte 1, 1996, Gradiva.
Pelo conhecimento que tens d'Os Lusíadas confirma a veracidade das afirmações do autor do excerto acima. Escreve um texto de 80/100 palavras.
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A mitologia aparece em Os Lusíadas com "uma função ornamental, mas um "significado profundo".
Os deuses, enquanto entidade coletiva ou individual, pontuam todo o enredo da obra, seja devido ao sucesso da viagem dos portugueses à Índia, seja na intervenção divina na batalha de Ourique.
A mitologia atribui, assim, um significado à obra: os portugueses foram o povo escolhido pelos deuses para tudo vencerem e tudo conquistarem. Esta "escolha" mostra, então, a aproximação entre deuses e o Homem, Homem esse que é dotado de conhecimento.
Assim, o plano mitológico tem uma função de extrema importância nesta obra.
Os Lusíadas e Mensagem
Indica o episódio d’Os Lusíadas que te mereceu particular atenção, justificando a tua preferência. Verifica se na Mensagem, Fernando Pessoa lhe confere igual destaque. O teu texto deve conter entre 80 e 130 palavras.
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São vários os episódios que merecem a minha atenção em Os Lusíadas, mas sem dúvida que o episódio da Ilha das Amores foi o que mais me cativou.
Este episódio foi o que mais gostei pelo facto dos portugueses, após tantas batalhas, de terem ultrapassado tantos perigos, de terem lutado contra tudo e contra todos, depois de terem nunca desistido, tendo sempre mostrado a sua força, a sua valentia e a sua determinação, foram recompensados pelos Deuses em geral e por Vénus em particular. Como principal recompensa, destaca-se a que foi dada a Vasco da Gama: a Máquina do Tempo, representando o conhecimento. Este episódio é, sem dúvidas, aquele onde a linha humanista é mais destacada.
Por sua vez, Fernando Pessoa na sua Mensagem não lhe atribui igual destaque.