Temas recorrentes
- Procura da decifração do enigma do ser;
- Fragmentação do eu. Perda de identidade;
- Obsessão pela análise, dor de pensar;
- Fuga da realidade para o sonho;
- Inquietação, angústia existencial, solidão interior, melancolia, resignação;
- Tédio, náusea, desencontro com os outros;
- Nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância;
- Fingimento poético: transfiguração da emoção pela razão.
Estilo
- Preferência pela métrica curta;
- Gosto pelo popular (uso frequente da quadra);
- Influência do lirismo lusitano (reminiscências de cantigas de embalar, toadas do romanceiro, contos de fadas);
- Linguagem simples, espontânea mas sóbria;
- Criação de metáforas inesperadas, uso frequente do oxímoro (paradoxo);
- Versos leves em que se recorre frequentemente à interrogação, à negação e às reticências.
Fragmentação do eu
A fragmentação do eu é um dos temas da poesia de Pessoa.
Para Pessoa, é impossível encontrar a identidade e evitar a fragmentação do eu. O ser plural, caso não cesse a procura da resposta ao enigma do ser, torna-se infeliz. Ao procurar desvendar tal enigma, confronta-se com a pluralidade e, sendo vários, não é ninguém, compreendendo-se o porquê de não saber quem é, nem saber se ele existe. No entanto, ao viver diferentes “personagens”, o eu encontra-se fragmentado e não é possível ser a totalidade dos fragmentos. Consequentemente, não pode voltar a ser a unidade (que pode representar a infância ou a felicidade perdida).
Conclui-se, então, que a heteronímia é fruto da fragmentação do eu, não permitindo o eu fragmentado e a perda de identidade, a felicidade do poeta.
Binómio sentir/pensar
Um dos temas recorrentes da poesia de Pessoa é o binómio sentir/pensar, dois conceitos completamente distintos na visão do poeta.
Para Pessoa, enquanto que pensar traz infelicidade, sentir é algo completamente diferente, algo inconsciente e, por isso, traz consigo felicidade (apesar da sua inequívoca relação na formação da “arte”). Em poemas como “Ela canta pobre ceifeira” é possível ver tal oposição. Enquanto que a ceifeira vive feliz, dado que não pensa, apenas sente, o poeta, que utiliza o pensamento para viver, sente inveja da própria ceifeira, dado que, vivendo conscientemente, pensando, é infeliz.
Em suma, a comparação entre pensar e sentir na poesia ortónima de Pessoa pretende mostrar que alguém que viva a vida sem pensamento é mais feliz do que aquele que está constantemente a pensar.
Dor de pensar
A dor de pensar é um dos temas que Pessoa mais trata na sua obra.
É em poemas como “Ela canta pobre ceifeira” que o poeta nos mostra que apenas pode pensar, sem nunca conseguir sentir. No caso da “ceifeira”, esta vive “alegre” dado que, para ele, a vida só é vivida quando não existe pensamento, quando é vivida na inconsciência, na ignorância. O poeta sente-se, assim, triste e invejoso de tal situação, dado que não consegue viver inconscientemente. No entanto, apesar de desejar ser inconsciente, Fernando Pessoa quer ter consciência de tal facto.
Em suma, aquele que vive na ignorância é mais feliz do que aquele que vive a vida pensando, preferindo o sujeito poético viver inconscientemente, sem pensar, para poder ser feliz durante toda a vida.
Infância mítica / nostalgia da infância
Um dos temas recorrentes da poesia de Pessoa é a infância.
A infância é entendida como um tempo mítico do bem, da felicidade e da inconsciência. Nela permanecem sempre vivos a família e os lugares, a segurança e o aconchego, entretanto perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência de que todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir nostalgia face à infância, um tempo perdido que serve para acentuar a negatividade do presente. O desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.
Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.
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O tema da infância mítica é deveras importante na poesia de Pessoa ortónimo
Pessoa sente saudade da infância, uma saudade intelectual e literariamente trabalhada, saudade de uma nostalgia imaginada, símbolo da pureza, inconsciência, felicidade e até mesmo sonho. A recordação deste tempo, o tempo do bem perdido, do mundo fantástico, é resultado da fuga/evasão à realidade e ao tempo presente. Porém, em poemas como "Ó sino da minha aldeia" é possível ver-se alguma tristeza e lamentação resultante de um tempo que não passou de um sonho, mas que também marca o tempo em que o poeta viver, um tempo de felicidade que foi passado junto da família.
Em suma, o tempo da infância mítica era um tempo em que, para o sujeito poético, tudo era fácil e possível de acontecer.
Em síntese...
SILVA, Pedro; CARDOSO, Elsa; MOREIRA, Maria; RENTE, Sofia (2012): Expressões 12 - Caderno de Apoio ao Exame - Português - 12.º Ano. Porto: Porto Editora